Abaixo, o texto irretocável do Buriti.
É sábado a noite, chove a cântaros no Rio.
No aterro do Flamengo está sendo montada uma parafernália para uma
"demonstração" da Ferrari F10 de Felipe Massa, com o próprio pilotando.
Uma demonstração na verdade de como pode se transformar o patrimônio de
uma cidade em um espaço fechado para um grande evento, que vem sendo
planejado há pelo menos dez anos pelas mentes criminosas que governam a
nossa cidade. Em 2006 chegaram a oferecer o mesmo espaço para uma prova
de F-Renault, a CBA vetou, o presidente na época depois se afastou, e a
regra que dizia que nenhuma cidade que possuísse traçado permanente
poderia fazer uma pista de rua caiu também, vide São Paulo que possui
Interlagos e agora uma excrecência chamada Circuito do Anhembi, na qual
os carros da F-Indy passam a 300 quilômetros por hora por uma reta
ondulada separados do trânsito urbano por um alambrado e um muro de
concreto provisório.
Parece absurdo? Não, são apenas amostras do poder econômico que quando
quer faz qualquer coisa se tornar realidade, para muitos
empresários/promotores de evento, o Aterro é "desperdício" já que é
público, toda aquela paisagem desperdiçada com pobres que não consomem
nada de luxuoso nem de grife, um absurdo que está com os dias contados,
pois no domingo dia 10 de março, oficialmente estará sendo inaugurado o
"circuito da Cidade do Rio de Janeiro", nas alamedas do parque criado
por Lotta Macedo Soares, ela mesma entusiasta do esporte a motor mas que
criou o Parque para ser apreciado a baixas velocidades, fazendo as
pistas abauladas e de raio longo, coisa que inviabiliza para corridas de
automóvel.
O evento de domingo será a forma de provarem que um carro de F1 pode
andar no Aterro, e quando a foto da Ferrari F-10 estiver estampada em
todos os sites especializados de automobilismo do mundo, com a pedra do
Pão de Açúcar ao fundo, a massa de água azul da baía de Guanabara sob um
sol de eterno verão com o público servindo de moldura, todos urrarão
por uma pista no Aterro, custe o que custar, principalmente os
patrocinadores. Porque será a primeira vez que se terá algo realmente
novo e vendável para o "negócio" F1, que há anos patina em eventos em
países exóticos e caros.
Agora, em um momento que a popularidade do esporte a motor no país
encontra-se em baixa, vem o Felipe Massa promover um evento patrocinado
por uma marca de energético, principal patrocinador da equipe, enfim,
ele deu uma entrevista explosiva, mas inócua, criticou, lamentou, acusou
medianamente, mas é tarde demais.
Durante anos procuramos pilotos brasileiros de ponta, inclusive o
próprio Massa, que, blindado por sua assessoria de imprensa nunca
divulgou uma única notinha sobre o assunto, e agora em que está prestes a
afiançar um crime contra o patrimônio da cidade vem com essa baboseira
de "sensibilizar os dirigentes", desculpe meu jovem, você teve sua
chance, chegou a andar em Jacarepaguá na época da F-Chevrolet, lembra?
Não faz muito tempo, essa categoria nem existe mais, nem os carros,
provavelmente os troféus que ganhou jazem empoeirados em algum canto de
uma de suas casas, enfim, o Brasil nunca significou nada além do lugar
onde nasceu e criou sua família, porque esporte a motor aqui praticou
muito pouco para ajudar a influenciar alguma coisa.
Massa foi a raspa do tacho da Era Senna, o último dos moicanos que veio
de baixo, e na raça cavou seu lugar ao sol, o que temos hoje pilotando
no Brasil ou são empresários velhos demais para almejaram alguma coisa
melhor que um terceiro piloto de uma Le Mans Series ou filhinhos da
papai jovens demais e com talento de menos para conseguir um cockpit de
primeira linha nas categorias top internacionais.
Entusiastas existem, bons pilotos existem, mas aqui não temos mais
automobilismo, ele foi extinto em nome do lucro exorbitante e fácil. O
fim do autódromo de Jacarepaguá baniu definitivamente o automobilismo da
visibilidade midiática, a pouca que ainda tinha para gozo dos
empresários do futebol e do olimpismo, que assim podem abocanhar as
poucas verbas publicitárias ainda existentes com mais facilidade ainda.
Lamento pelo automobilismo brasileiro ter como defensor de momento uma
pessoa que amanhã a essa hora terá assinado o atestado de óbito do
Aterro do Flamengo como parque público, abençoado pelo poder econômico e
pela leniência de um prefeito criado nos condominios da Barra da Tijuca
que não tem sequer idéia do que significa esse espaço dentro da
história de nossa cidade.
Deixo abaixo o texto e o link da entrevista pubicada no Grande Prêmio,
saiu em outros sites, mas essa é a que fala com todas as letras sobre
tudo isso.
09/03/2013 19:47
Massa critica e espera que evento da Ferrari mude “mentalidade de quem está no comando” do esporte no Rio
Às
vésperas de guiar F10 nas ruas do Rio de Janeiro, Felipe Massa saiu em
defesa da construção de um novo circuito carioca. Piloto classificou
destruição de Jacarepaguá como “uma besteira” e disse que espera que TNT
Street Race possa sensibilizar dirigentes para a construção de um novo
espaço
Às vésperas de guiar um F10 nas ruas do Rio de Janeiro, Felipe Massa
saiu em defesa da construção de um novo circuito no estado. Em uma
coletiva de imprensa realizada em um hotel em Copacabana, o piloto da
Ferrari criticou a destruição do circuito de Jacarepaguá e disse esperar
que o TNT Street Race ajude a sensibilizar as autoridades locais. Neste
domingo (10), o companheiro de Fernando Alonso vai guiar a Ferrari de
2010 no Aterro do Flamengo, na zona sul do Rio de Janeiro.
“É muito triste o que aconteceu com o autódromo do Rio, um autódromo
que já foi considerado muitas vezes um dos mais importantes do meio da
F1, a pista mais bacana de pilotar”, comentou. “Nunca tive a chance de
correr no Rio, mas acho que foi uma pista muito importante para o meio
da F1, e ver aquilo que aconteceu é muito triste, principalmente para um
piloto como eu, para um esporte tão importante, que é a F1”, continuou o
brasileiro.
(continua clicando aqui)
Provavelmente ele não irá ler este modesto blog, mas se pudesse estar
frente a frente com ele pediria encarecidamente que ele não colocasse
carro na pista, mas que o levasse até a linha de largada saísse do carro
e pedisse o microfone, e dissesse que rua não é pista, que um carro de
F1 só voltará a andar no Rio quando tivermos o nosso autódromo de volta,
de preferencia Jacarepaguá, na Restinga de Itapeba, de onde nunca
deveria ter saído.
O resto é história.
Nos vemos na pista.
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